
"A comunicação é um Direito Humano", destacou a comunicadora Érica Daiane, no sexto encontro do SEMEAR, curso de formação política voltada para as juventudes, rural e urbana, realizado pelo mandato da deputada estadual Neusa Cadore (PT), que nesta quinta-feira (25), reuniu quase 100 pessoas de toda a Bahia para debater "Política e Comunicação: nas ruas e nas redes".
Esta edição contou com a mediação da comunicadora Bárbara Anunciação, de Irará, e a arquiteta e urbanista Karoline Santiago, de Santa Maria da Vitória. A mesa foi formada por Érica Daiane, comunicadora e ativista sociocultural de Juazeiro, e dos membros da equipe de comunicação do ex-presidente Lula, Brunna Rosa, cientista social e tecnóloga criativa, e José Chrispiniano, jornalista e assessor de imprensa, ambos de São Paulo.
O encontro começou ao som da musicista Fernanda Santos, de Conceição do Coité, que em sua música 'Ascensão', trouxe a força do povo sertanejo e lembrou que "quanto mais o motor me bate, mais fibra descubro que existe em mim", tal qual a simbólica planta do Sisal. A parte cultural contou ainda com a música de Matheus Zingue, de Capim Grosso, e a poesia de Machado de Jesus, de Santo Amaro.
Antes da mesa ser formada, a companheira Gabriela Alvarez, jornalista do Brasil de Fato, um coletivo nacional que há mais de 10 anos tem uma grande atuação nas trincheiras da luta pela construção de uma comunicação democrática, com versões digitais, programas de rádio e jornais impressos gratuitos.

Érica Daiane já iniciou a mesa falando sobre o Direito Humano à comunicação, previsto na Constituição Federal, mas de pouco acesso à população.
"É um direito que perpassa vários outros. A negação do direito a comunicação pode ser também a negação do direito a terra, a moradia, a saúde. Porque se a gente não consegue comunicar, reivindicar inclusive esses outros direitos, eles vão ser negados por tabela", explicou.
Érica seguiu mostrando como as concessões de rádio e TV, que são públicas, funcionam como capitanias hereditárias no Brasil, com poucas famílias controlando grandes conglomerados de mídia, sem nenhum debate público.
"O que seria ideal na democracia? Nós que somos usuários desse serviço sermos consultados, para avaliar e decidir seria renovado ou não. Mas essas renovações elas acontecem de forma automática. O golpe contra a presidenta Dilma foi, também, midiático. A reforma da comunicação Brasil é algo urgente. É algo que não dá mais pra esperar", defendeu.
Trabalhando com as redes sociais de Lula, Brunna Rosa apontou as dificuldades enfrentadas através da mudança da comunicação, não só no Brasil, pois cada rede funciona de maneira própria.
"Hoje a gente tem um monte de pessoas, um monte de telas se comunicando o tempo todo. A gente tem um desafio muito grande que é falar de política. A gente concorre na internet com, gatinhos, cachorrinhos, piada, coisa engraçada. É muito difícil falar dessas coisas que a gente fala no nosso cotidiano que são cheias de palavras difíceis, nesse universo da comunicação da política."

"Se a gente estiver conectado, não só querendo falar, mas também querendo ouvir e dialogar, a gente vai conseguir, de alguma forma, pular esse problema do algoritmo, que hoje escolhe o que a gente vê e não vê na internet. Se a gente for uma rede entre nós e sabemos o que falar, todo mundo junto ao mesmo tempo, a mesma mensagem de uma forma clara e direta, a gente vai conseguir fazer com que essa mensagem chegue mais longe", concluiu Brunna.
A individualização da comunicação foi apontada por José Chrispiniano. O assessor de Lula lembra que há 20 anos a família se reunia na frente da TV para acompanhar um jornal, mas que hoje a maior fonte de informação é o celular "um aparelho eminentemente individual".
"WhatsApp é um meio de comunicação que algumas mensagens ganham proporções de massa, mas é um meio de comunicação interpessoal. Então essas redes elas influenciam uma as outras, que passam na TV, influenciam o debate na internet e o debate na internet pauta o debate na televisão", destaca.

"No fundo, por trás de toda a comunicação seja a TV ou internet, tem pessoas, que é o objetivo final da comunicação. Comunicar ideias para as pessoas, organizar as pessoas é o objetivo final da comunicação e é o objetivo final da política. A gente vai precisar que as pessoas se engajem, conquistem ferramentas pra enfrentar fake news e pra enfrentar o debate público, não só com quem concorda com a gente, mas organizar quem concorda com a gente e debater com quem discorda da gente, com muitos motivos diferentes", alertou Chrispiniano, sobre a disputa eleitoral de 2022.
A deputada Neusa lembrou de como a internet é uma ferramenta importante e poderosa, como foi possível acompanhar e apoiar as pré-candidaturas de várias mulheres, em diversas regiões do estado.
"A gente construiu a plataforma feminista nesse debate, fizemos oficinas de comunicação. Esse momento da pandemia que desarrumou tudo, mostrou caminhos pra gente, mas o desafio é grande e a gente precisa se aprofundar nesse debate", refletiu.

A importância do curso também foi destacada pela parlamentar.
"A palavra 'semear' cai bem. É uma provocação, é uma semente, com carinho e a gente vai cada semana regando. Eu acho que a gente só passa a ser social de verdade quando a gente pode ter um coletivo pra expressar nossos desejos, nossos sonhos, nossas reivindicações e o SEMEAR é pra isso, pra gente juntar mais gente. Nós sonhamos e temos certeza que vamos, em muitos municípios, fortalecer coletivos, criar novos coletivos e ajudar, junto com a juventude, melhorar essa mobilização que é tão importante. A gente quer seguir, continuar. O SEMEAR não está acabando, é um processo permanente em nossas vidas, semear, crescer, florescer e resistir", arrematou Neusa.
O próximo encontro do SEMEAR já está marcado, será o "final do início da caminhada" como lembrou Bárbara. No dia 02 de novembro, às 19h, a turma se reúne para celebrar e reafirmar o compromisso da juventude, sob o tema "Esperançando novos caminhos".
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