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Artigo: Janja e o debate tão necessário sobre liberdade das mulheres

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Por Érica Daiane*

Rosângela da Silva, paranaense de 59 anos, socióloga formada em universidade federal, ativista política e social, tornou-se em 2023 a Primeira-Dama do Brasil. Do romance que iniciou oficialmente durante prisão em Curitiba a uma influência extraordinária na condução de um país. Sim, é notório que o Presidente Lula escuta muito sua esposa Janja, como é conhecida.


Eu, apesar de sempre ter votado em Lula e defendido o projeto político que o mesmo representa, já fiz também críticas ao homem que era, a falas machistas que deixava escapar anos atrás e que sempre foi um prato cheio para oposição.

Hoje tenho o admirado cada vez mais quando se posiciona com relação às mulheres. Não tenho dúvidas que Janja vem contribuindo significativamente para fazê-lo enxergar por um prisma que, muitas vezes, os homens não conseguem. Na verdade, nem toda mulher consegue também.


O patriarcado, como o próprio nome remete, evidencia um domínio dos homens sobre as mulheres, o que por muitos séculos foi naturalizado e para muitos seres humanos, ainda é aceitável. O feminismo vem para dizer às mulheres e aos homens que isso foi uma construção social, portanto, pode e deve ser desconstruído. Janja tem plena convicção disso e sabe que para tanto é preciso mais que teorias, mas sim políticas efetivas, enfrentamento, orçamento público.


Em 01 de janeiro de 2023, Janja já deu o tom da sua participação no governo que se iniciava. Lembram da solenidade de posse, onde historicamente o presidente subiu a rampa do Congresso Nacional acompanhado de pessoas que garantiam a representatividade do povo brasileiro? Janja esteve envolvida na construção desse momento. Lembram por que a mídia destacou os trajes de Janja? Era uma roupa produzida em alfaiataria, tingida naturalmente com plantas como caju e com detalhes bordados por mulheres de cooperativa do Rio Grande do Norte, simbolizando o protagonismo feminino, a sustentabilidade socioambiental, a valorização da mão de obra artesanal brasileira, e ainda a coragem de mostrar que a moda, o luxo do vestir-se nestas e em qualquer ocasião, não precisa estar associada às grandes marcas internacionais. 


No final de novembro para o início de dezembro deste ano, movimentos de mulheres e órgãos governamentais, realizavam a Campanha dos 21 dias de ativismo pelo fim da violência contra mulher. Na semana que antecedeu o Dia Nacional de Mobilização dos homens pelo Fim da Violência contra as Mulheres, marcado pela Campanha do Laço Branco, dia 06 de dezembro, Lula convocou os homens do Brasil a encaparem a luta pelo fim da violência contra mulher. O presidente fez essa convocação em eventos públicos onde esteve, mostrando indignação com crimes de feminicídios que tiveram destaque nos meios de comunicação no início do mês. Em uma das falas ele revelou um pedido de Janja: “e hoje no avião ela pediu para mim: ‘ô Lula, assuma a responsabilidade de uma luta mais dura contra a violência do homem contra a mulher’”. Depois disso, campanhas se espalharam pelas redes sociais, caminhadas foram realizadas com mais força no dia 07 de dezembro em vários lugares do país e o tema segue sendo pauta em diversas formas de manifestações.


Há quem questione o papel de Janja no governo. Mas quem defende a reparação histórica e protagonismo necessários às minorias sociais, quem ainda tem esperança em frear a crise climática, quem sonha com a igualdade social nesse país, não vai se incomodar com uma Primeira Dama que influencie decisões do Chefe de Estado. Janja tem ousado peitar figuras como Elon Musk, que já foi considerado o homem mais rico do mundo e Xi Jinping, presidente da China, pontuando temas necessários e muitas autoridades mundiais têm receio de tocar. Ela me representa e representa muitas feministas que são muitas vezes acusadas de inconvenientes, exageradas, loucas ou sem noção por ousarem falar o que muitos homens não querem ouvir ou não tem coragem de externar. Isso acontece na política mundial, nacional, municipal e em todos os espaços, pois o machismo, a misoginia, o ódio às mulheres terem poderes é recorrente nas nossas famílias, na rua, nas religiões, nos ambientes de trabalho e até mesmo de militância.


É um caminho longo e o fio da meada é a liberdade de ser quem somos. E é por isso que “Janja é Janja”, como disse esses dias a Secretária de Políticas para Mulheres da Bahia, a deputada estadual licenciada Neusa Cadore. É sobre liberdade também entender que nem toda Primeira-Dama precisa ser igual a Janja, cada mulher é livre para seguir seu caminho, podendo optar também por não se envolver na política e seguir sua vida, seu propósito, inclusive não se sentir obrigada a acompanhar o esposo sempre em atos oficiais. Quem deu às esposas de presidentes, governadores e prefeitos essa obrigação? Certamente os mesmos que construíram a ilusória e quase extinta família tradicional brasileira, aquela que, muitas vezes, esconde traições, desilusões, infelicidades, mas que aparece na foto oficial como feliz, perfeita.


Então, Brasil, precisamos evoluir muito ainda, aceitar as Primeiras Damas como elas são, aceitar que as mulheres podem e devem ser elas mesmas prefeitas, governadoras, presidentas das Repúblicas e não ter que apelar para golpes ou para vida pessoal para nos destituir dos cargos ou macular nossa imagem. Aceitar, inclusive, que a mulher na política, necessariamente, não é obrigada a ter Primeiros Cavalheiros. Aliás, a propósito, por que será que esse título não existe?


*Érica Daiane – é salitreira, jornalista, professora, petista, integrante do Coletivo Enxame e atualmente Secretária da Mulher e Juventude de Juazeiro (BA).

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💟 Secretária Estadual de Política para as Mulheres da BA.
💜 Deputada Estadual licenciada
🌟 Primeira prefeita do PT na Bahia, em Pintadas (1997 a 2004)

©2023 por Neusa Cadore.

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